quarta-feira, 25 de maio de 2011

O Centro Popular de Cultura (CPC) foi uma organização associada à União Nacional de Estudantes - UNE, criada em 1961, na cidade do Rio de Janeiro, por um grupo de intelectuais de esquerda, com o objetivo de criar e divulgar uma "arte popular revolucionária". Reuniu artistas de diversas áreas (teatro, música, cinema, literatura, artes plásticas, etc.), defendendendo o caráter coletivo e didático da obra de arte, bem como o engajamento político do artista.
Seus fundamentos e objetivos foram definidos no "Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura.Segundo o manifesto, a arte do povo é "de ingênua consciência", sem outra função que "a de satisfazer necessidades lúdicas e de ornamento". O CPC "pretendia tirá-las da alienação e da submissão."
Em 1964, logo após o golpe militar, o CPC foi fechado pelas autoridades.À época, o Partido Comunista Brasileiro ocupava lugar de destaque na área cultural, tendo muitos jornalistas, artistas e profissionais liberais como seus filiados, além de entidades como a própria UNE. Durante sua breve existência, o CPC promoveu a encenação de peças de teatro em portas de fábricas, nos sindicatos e nas ruas de várias cidades e em áreas rurais do Brasil. O contexto era de forte mobilização política, com expansão das organizações de trabalhadores e assim, os temas do debate político se rebatiam diretamente na produção cultural.
A proposta do CPC diferia. no entanto, da posição das vanguardas artísticas dos anos 1950, tais como o concretismo, que defendiam o diálogo com a técnica e a indústria. Os artistas ligados ao CPC, recusavam-se a considerar a arte como "uma ilha incomunicável e independente dos processos materiais". Acreditavam que toda manifestação cultural deveria ser compreendida exatamente "sob a luz de suas relações com a base material", combatendo o hermetismo da arte: "nossa arte só irá onde o povo consiga acompanhá-la, entendê-la e servir-se dela."

Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura

O artigo Anteprojeto do Manifesto Centro Popular de Cultura trata sobre os ideais do Centro Popular de Cultura (CPC), associação que foi criada em 1961, no Rio de Janeiro. O grupo, ligado à União Nacional de Estudantes (UNE), tinha como objetivo criar uma “arte revolucionária”, que exaltasse a cultura nacional e conscientizasse as classes populares. A arte, para eles, deveria ter, além do engajamento político do artista, caráter coletivo e democrático. O grupo era formado por artistas do teatro, do cinema, da música, da literatura e das artes plásticas e teve seus propósitos e fundamentos estabelecidos no Anteprojeto, escrito em março de 1962. 

Os artistas do CPC se propunham à criação de uma arte que não se desvinculasse dos processos materiais que configuram a existência da sociedade - ou seja, a arte não deveria ter fins exclusivamente estéticos: deveria ser vinculada à realidade social. Além de ser um artista, eles deveriam ser homens comuns, com as mesmas limitações e ideais de seus semelhantes, compartilhando as mesma responsabilidades, esforços, derrotas e conquistas comuns.

Segundo o manifesto, havia dois caminhos que poderiam ser seguidos pelos artistas: se sujeitar ao sistema social, agindo de modo amorfo e passivo, ou participar ativamente contra a conformismo da sociedade. Para o CPC, os artistas que escolhiam a primeira opção não relacionavam a arte com o olhar crítico sobre as condições sociais e históricas, pelo contrário - consideravam que eles estavam conectados às relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade. Esses artistas, de acordo com o Anteprojeto, juntamente com as classes econômicas dominantes, atuavam com o objetivo de dominar as ideias, sentimentos, valores e aspirações do povo. 

A arte para o CPC deveria ser uma importante ferramenta espiritual de libertação material e cultural do povo brasileiro. Para isso, seria necessário o conhecimento das relações sociais, bem como os aspectos políticos e econômicos, de modo que fosse possível realizar um trabalho ativo, forte, modificador e independente, capaz de produzir reações na estrutura material da sociedade. Por isso que o grupo caracterizava a arte como revolucionária, graças ao seu poder de romper com paradigmas.

Os artistas e intelectuais brasileiros eram classificados pelo Centro Popular de Cultura em três categorias: conformistas, inconformistas e revolucionários, sendo os últimos os próprios artistas da associação. Os inconformistas, de acordo com o manifesto, eram contra os padrões de dominação da sociedade e deixavam clara sua repulsa pelo sistema. A ausência de uma atitude visando mudanças, no entanto, impedia que eles fossem caracterizados como "revolucionários" pelo CPC.

Também a arte poderia ser dividida em três tipos, segundo o manifesto: a arte do povo, a arte popular e a arte popular revolucionária. A primeira era aquela produzida em regiões mais atrasadas economicamente, na qual o artista não se distinguia da massa. O segundo tipo visava o público dos centros urbanos, que recebia a obra produzida por um "grupo de especialistas". A arte era vista como um passatempo, uma alternativa de lazer. Para o CPC, esses tipos de arte não poderiam ser aceitos como pontes de comunicação com as massas, já que não expressavam a essência do povo. Já a "arte revolucionária" era, para eles, a melhor expressão da arte. O grupo acreditava que a revolução estava em passar o poder para o povo, anseiando pelos mesmo objetivos políticos da massa. A revolução seria atingida, então, com a conscientização da condição de dominados da massa e, consequentemente, seria esperada uma ação prática de libertação do povo. Os artistas do CPC se consideravam superiores aos artistas da massa, os que criavam entretenimento.

Em 1964, logo após o golpe militar, o CPC foi fechado pelas autoridades. À época, o Partido Comunista Brasileiro ocupava um lugar de destaque na área cultural, sendo composto por muitos jornalistas, artistas e profissionais liberais, além de entidades como a própria UNE. Durante sua breve existência, o CPC promoveu a encenação de peças de teatro em portas de fábricas, nos sindicatos e nas ruas de várias cidades e em áreas rurais do Brasil. O contexto era de forte mobilização política, com expansão das organizações de trabalhadores, de modo que os temas do debate político influenciavam diretamente a produção cultural.


terça-feira, 24 de maio de 2011

Resenha - "Eles não usam black tie"

O filme Eles não usam black tie é baseado na primeira peça, de mesmo nome, de Gianfrancesco Guarnieri, do ano de1958. A peça foi encenada pela primeira vez quando o movimento Cinema Novo começava a surgir, convocando a arte ao neo-realismo. Ao invés de personagens ricos e nobres, operários e moradores do morro subiam ao palco. Ali, em plenos anos 50, negros eram cidadãos comuns. A realidade brasileira estava ganhando espaço nas artes cênicas.

Ao ser adaptada para o cinema brasileiro, o filme tem como cenário a grande cidade de São Paulo dos anos 70, local que amparou grandes movimentos sociais.

A trama, que envolve família, sindicato, e industria, traça um perfil vivo do Brasil no processo de transição do regime ditatorial para o sistema capitalista. As marcas dessa transformação podem ser percebidas nos processos de trabalho, hábitos de consumo, poderes e práticas do Estado.

Para que o sistema permanecesse viável era necessário a fixação de preços e exercer controle suficiente sobre o emprego da força de trabalho – posicionamento esse, bastante evidenciado no filme. O espaço da fábrica era controlado a todo momento por vigias e polícias, os quais intervinham sempre que preciso, no intuito de manter a ordem caso esta fosse ameaçada. No entanto, o controle da força de trabalho estava também atrelado as ideologias que o sistema pregava. Instituições como a Igreja, a Escola e o Estado, buscavam reproduzir o modo de produção capitalista, despertando sentimentos sociais como: a ética do trabalho, lealdade aos companheiros e a busca de identidades através do trabalho. Era necessário forjar um tipo particular de trabalhador, o qual se adequasse ao novo tipo de sociedade democrata que emergia.

A fábrica simboliza o sistema capitalista, seu espaço é caracterizado pelas longas horas e rotinas de trabalho, pela obediência e disciplina do trabalhador. No entanto, o acumulo destes em fábricas de larga escala, traz consigo a ameaça de uma organização trabalhista mais forte e aumento da sua classe operária.

O filme fora retratado no ABC Paulista, palco dessa união de trabalhadores que, através de sindicatos, se organizaram e tomaram consciência enquanto classe social, na busca de melhores condições de trabalho e direitos trabalhistas.

Um dos protagonistas do filme, é o personagem Tião (filho do operário Otávio). Ele vive a incerteza de estar engajado no movimento operário, na busca do bem coletivo juntamente com seu pai e outros companheiros de luta, ou de renegar a tudo isso na busca de um futuro próspero e empreendedor.

O conhecimento passa a ter maior destaque no contexto, ele também é uma forma de despertar individualismos, poder de competição, que põe por terra o poder organizado da classe trabalhadora. Tião acaba sendo um fura greve, o movimento operário perde o controle, a intervenção do poder militar é inevitável, a repressão para manter a ordem deixa um rastro de tortura e a morte de um dos lideres do movimento de greve - a dor da perda de um grande companheiro sindical - faz ressurgir ainda mais forte a esperança e a vontade de continuar lutando por democracia, por melhores condições de trabalho e de vida.

Os personagens Tião, Maria (sua namorada e futura mãe de seu filho) e Otávio, representam a classe trabalhadora daquela época, presenciaram a transição de um regime ditatorial para um modo de acumulação flexível.

O filme traz a mensagem que, as frustrações de grupos e minorias excluídas, juntamente com a luta por melhores condições de vida, são de certa forma “alimento” que podem levar a mudança de regras e posicionamentos da classe dirigente.

domingo, 22 de maio de 2011

Resenha "Rio 40 Graus"

“Rio 40 graus” (1955) inaugura um marco do cinema brasileiro, o movimento estético cultural do Cinema Novo, e apresenta as contradições sociais da cidade carioca dos anos 50. O filme é um semi-documentário do consagrado diretor Nelson Pereira dos Santos (1928), um dos precursores do Cinema Novo. Apesar de ter sido lançado em 1955, “Rio 40 graus” só chegou aos cinemas dois anos depois. O longa-metragem foi censurado pelo órgão regulador da Segurança Pública, que condenava a visão negativa da cidade carioca, o uso de gírias, a figura cômica de um personagem deputado e, principalmente, os “elementos comunistas”. Além disso, era alegado que até o título era mentiroso, pois, segundo o chefe de segurança Geraldo de Menezes Cortes, a temperatura do Rio de Janeiro nunca chegava a 40 graus.

Quarenta graus ou não, o filme esquentou o cinema nacional e atraiu até olhares internacionais, que aplaudiram o realismo presente no longa. A forma como a cidade foi retratada era inédita para a época. Mostrou-se a vida de moradores humildes, que se cruzam ao longo do documentário, do morro do Cabuçu. As câmeras acompanham um domingo de sol dos personagens: jogadores de futebol, um deputado, uma doméstica grávida de um policial, uma doméstica doente, crianças entre outros. O elenco infantil é protagonizado por cinco garotos que desejam comprar uma bola de futebol, para isso eles vendem amendoim por regiões importantes do Rio de Janeiro, como o Pão de Açúcar, Copacabana e o Estádio do Maracanã. As histórias dos personagens dão conta de vários problemas sociais, como a falta de assistência médica e de remédio das classes populares; comércio de rua dominado por certos vendedores (um dos garotos ao vender amendoim em Copacabana deve entregar parte da venda para um “dono do ponto”); gravidez indesejada; corrupção política e mostra também os interesses por trás dos times de futebol.

O enredo foi capaz de agregar vários dramas pessoais sem deixar de lado o olhar social. Além disso, mostrou namoros, futebol e uma escola de samba. “Rio 40 graus” deu conta, dessa forma, da complexidade da vida dos morros cariocas, desde as dificuldades financeiras à vida da namorada e seus dois homens. O longa revolucionou o cinema nacional por sua audácia e foi significativamente influente no surgimento de filmes como “Cidade de Deus”. Apesar da história no filme se passar na cidade carioca, os problemas sociais eram presentes em todo Brasil. E, infelizmente, são os mesmo do presente.

Fichamento sobre o Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura

O artigo Anteprojeto do Manifesto Centro Popular de Cultura trata sobre os ideais do Centro Popular de Cultura (CPC), associação que foi criada em 1961, no Rio de Janeiro, ligado à União Nacional de Estudantes (UNE). O objetivo do grupo era criar uma “arte revolucionária” que exaltasse a cultural nacional e conscientizasse as classes populares. A arte deveria ter caráter coletivo e democrático, além do engajamento político do artista. Os propósitos e fundamentos da associação foram estabelecidos no Anteprojeto, criado em março de 1962.Ele reunia artistas do teatro, do cinema, da música, da literatura, das artes plásticas entre outras.

Os artistas do CPC se propõem a criação de uma arte que não se desvincula dos processos materiais que configuram a existência da sociedade . Ou seja, a arte não deveria ter fins exclusivamente estéticos, deveria ser vinculada à realidade social. Além de ser um artista, eles deveriam ser homens comuns, com as mesmas limitações e ideais dos seus semelhantes, compartilhando as mesma responsabilidades, esforços, derrotas e conquistas comuns.

Segundo o manifesto, há duas opções que os artistas poderiam seguir: ou a dos que se sujeitam ao sistema social, agindo de um modo amorfo e passivo; ou a linha dos que participam ativamente contra a conformação do mesmo meio social. Para o CPC, os artistas que escolhem a primeira opção não relacionam a arte com um olhar crítico sobre as condições sociais e históricas, pelo contrário, eles estão conectados as relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade. Esses artistas, de acordo com o Anteprojeto, juntamente com as classes econômicas dominantes, atuam com o objetivo dominar as idéias, sentimentos, valores e aspirações do povo. A arte para o CPC deveria ser uma importante ferramenta espiritual de libertação material e cultural do povo brasileiro. Para atingir tal libertação, seria necessário o conhecimento das relações sociais e os meios que o envolvem, como o político e econômico, assim seria possível realizar um trabalho ativo, forte, modificador e independente capaz de produzir reações na estrutura material da sociedade. Por esse motivo, que os artistas do CPC caracterizaram a sua arte como a “arte revolucionária”. É importante ressaltar que o CPC define três tipos de intelectuais e artistas brasileiros : conformistas (citado acima), inconformistas e revolucionários (os próprios artistas da associação). Os inconformistas, segundo o manifesto, são contra os padrões de dominação da sociedade e deixam claro a sua repulsa pelo sistema, entretanto eles não possuem uma atitude pulsante de mudança, nas palavras do CPC, não são “revolucionários”.

O CPC classifica três tipos de artes: a arte do povo, a arte popular e a arte popular revolucionária. A primeira é uma arte produzida em regiões mais atrasadas economicamente, na qual o artista não se distingue da massa, eles convivem no mesmo meio. A arte do povo é limitada a ordenação dos dados mais patentes da consciência popular atrasada . O segundo tipo atende ao público dos centros urbanos que recebe a obra produzida por um “grupo de especialistas”. A arte é vista mais como um passatempo, uma alternativa de lazer. Segundo o CPC, tais artes não são aceitas como pontes de comunicação com as massas, pois não expressam a essência do povo. A arte revolucionária é para os artistas do CPC a melhor expressão da arte. Acreditam que a revolução está em passar o poder para o povo, aspirando aos mesmos fundamentos políticos que o povo. A revolução seria atingida com a conscientização da condição de dominados da massa e conseqüentemente seria esperada uma ação prática de libertação do povo.Os artistas do CPC, se consideram superiores que os artistas de massa, os que criam entretenimento. Os “artistas revolucionários” acreditam criar o novo e os segundos apenas utilizam “o novo” como inspiração.

A problemática, diagnosticado no manifesto, resida na oposição entre qualidade e popularidade. As obras de arte são, geralmente, compreendidas por pessoas do meio artístico, devido à sua complexidade que vai “desde a iniciação artística até as formas práticas da existência, desde o desenvolvimento sensorial intelectual até a formação humanística, requisitos que constituem justamente os pressupostos culturais para a compreensão da obra” . Por esses motivos, a compreensão da obra pelo povo torna-se um problema. Entretanto, cientes do desafio, o CPC dedica às pesquisas e ao desenvolvimento de recursos de linguagem para criar uma arte eficaz, que conscientize o povo e torne-o um homem politizado.

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Resenha rio 40 graus

Presente com traços do passado

Filme de Nelson Pereira dos Santos, dedicado a sociedade carioca, é um marco no cinema novo brasileiro

Por: Fernanda Cielo

O filme “Rio 40 Graus”, de Nelson Pereira dos Santos, retrata um dia tipicamente carioca. Dedicado à população do Rio de Janeiro, o filme, de 1955, mostra na visão de cinco meninos de rua, negros e pobres, em um dia típico cariosa, com sol, praia, samba e a vida na favela.

Assim como a maioria dos filme brasileiros, “Rio 40 Graus” também mostram as belezas da cidade maravilhosa, e logo no inicio do filme, uma panorâmica explora as belezas do Rio, que mostra a cidade do Rio até chegar nas favelas que ali já existiam. Esse contraste na panorâmica é uma evidência do que o filme deseja tratar, a comunidade pobre inserida nas áreas mais afortunadas da cidade. No filme, várias histórias são contadas e com elas as dificuldades de cada um para sobreviver no Rio de Janeiro.

Os cinco meninos vendem amendoins em cinco pontos da cidade, entre esses pontos estão: a praia, o Corcovado, o Maracanã, o aterro do Flamengo. Cinco pontos considerados até hoje pontos turísticos e de uma beleza imensurável; porém, esses cinco pontos contrastam com a dificuldade que os habitantes cariocas tem da vida na favela.

“Rio 40 Graus” foi considerado um ‘movimento estético e cultural’ que pretendia mostrar a realidade brasileira. A realidade da época que é mostrada no filme, pode ser relacionada com a realidade que o Rio de Janeiro sofre agora, porém em menos escala e intensidade.

Ao decorrer do filme, são mostrados os preconceitos de classe, os ‘malandros’ que já se aproveitavam de qualquer oportunidade para subir na vida e a vida que as pessoas levam nas favelas.

Um ponto que vale ressalta, que é mostrado com muita clareza, é a questão da alfabetização. As diferenças das classes sociais ao falar, ao conversar, a se sentar na mesa etc. são nítidas.

Na época em que o filme foi lançado, os militares se contrapuseram e censuraram o filme, porque eles consideravam o filme uma grande mentira, já que a média de temperatura do Rio de Janeiro era de 39,6 C. O modo como o filme foi abordado foi de extrema coragem.

Violência. Gravidez indesejada. Aborto. Conflito de gerações. Nudez. Ambição. O medo de não conseguir sustentar a família. Amor. Desigualdade social. Favela. Demissões em massa. Polícia agindo com brutalidade. Repressão. Não fosse o figurino e o fantasma do Regime Militar seria difícil identificar a trama como se passando na São Paulo de 1979. Abordando temas ainda atuais, Eles não usam Black-tie (Brasil, 1981), dirigido por Leon Hirszman e baseado na peça homônima, de Gianfrancesco Guarnieri, foi sucesso de bilheteria quando lançado e até hoje suscita discussão.   
                                  
                            

Na história, cabe a enérgica e zelosa matriarca da família, Romana (brilhantemente interpretada por Fernanda Montenegro), o papel de controlar os ânimos e os horários dos três homens da casa – o marido Otávio (Gianfrancesco Guarnieri) e os filhos, o primogênito Tião (Carlos Alberto Riccelli), operário como o pai, e o caçula Chiquinho.
                             
Otávio ficara preso durante três dos anos de regime ditatorial no Brasil, fato que afetou sua família, mas não o fez desistir de, junto com o colega Bráulio (Milton Nascimento), continuar lutando pelos direitos da classe operária. Tião, no entanto, que teve de morar com os padrinhos no período da ausência do pai, não vê com bons olhos a greve proposta pelo movimento sindicalista na fábrica, encabeçado por Otávio, Bráulio e o estourado Santini (Francisco Milani).     
                 
Ao saber que a namorada Maria (papel de Bete Mendes) estava grávida, Tião decide anunciar o noivado. A preocupação e o medo de assumir as responsabilidades de pai de família, além dos constantes comentários do também companheiro de trabalho Jesuíno (Anselmo Vasconcelos) de que era melhor ser desprezado pelos colegas à ser mal visto pelo patrão, levaram o rapaz a furar a greve, “menos por covardia e mais por convicção”. Para ele, a greve era um direito de todo funcionário - que ele não queria exercer.

Premiadíssimo, Eles não usam Black-tie levanta importantes questões, sem deixar de ser um filme que agrade os menos entusiastas de política, intercalando as críticas ao regime com cenas do cotidiano, como as do namoro de Tião e Maria, o amor apesar dos anos de Otávio e Romana e o alcoolismo enfrentado por Jurandir (Rafael de Carvalho).

Resenha: Eles não usam black tie

O filme Eles não usam black tie de 1981, baseado no livro de Gianfrancesco Guarniere, é dirigido por Leon Hirszman e estrelado por um elenco de consagrados atores brasileiros, inclusive o próprio Guarniere.
A trama conta a história de uma família na qual o pai Otávio (Gianfrancesco Guarnniere) e o filho Tião (Carlos Alberto Riccelli) trabalham como operários em uma mesma fábrica na qual se inicia um movimento grevista liderado por Otávio.
Após engravidar a namorada Maria (Bete Mendes) e decidir se casar com ela, Tião desiste da greve para não sofrer represálias ou perder o seu emprego. Essa atitude do rapaz gera um conflito com seu pai, sua mãe Romana (Fernanda Montenegro) e até mesmo Maria.
Otávio, o pai, é um personagem que representa espírito de luta do brasileiro. Líder do movimento grevista, ele tem a voz de comando entre os companheiros de trabalho e dentro do ambiente familiar, no entanto, enfrenta oposições nessas duas esferas de sua vida. Na fábrica, outros operários se sentem injustiçados por serem demitidos e querem iniciar a greve antes do combinado. Já em casa, Tião não vê esse movimento da mesma forma que o pai e freqüentemente discorda da posição de Otávio.
O rapaz passou a infância com os padrinhos na cidade enquanto seu pai estava preso, por isso não concorda plenamente com o espírito de luta de seu pai e não se encaixa perfeitamente no estilo de vida do morro onde vivem. Quando a greve se inicia, Tião tem maiores preocupações como a gravidez de sua namorada e a manutenção de seu emprego. Esse modo de pensar e de ver a situação em que se encontram não pode ser abertamente discutida em casa, pois seria contrária à luta de seu pai para melhorar a situação em que viviam.
Romana, por sua vez é o apoio dos homens da casa. Tanto seu marido Otávio, quanto seu filho Tião vêem nela alguém com quem podem contar nos momentos difíceis que vivem durante a trama. Sempre disposta, a mulher cuida da casa e é quem dá suporte emocional ao marido e o filho em seus conflitos como a greve e a gravidez de Maria.
O filme apresenta diversos aspectos da sociedade brasileira como a luta de classes, a repressão dos tempos de ditadura, a diferença social e os conflitos familiares. Por isso, tanto o texto de Guarniere, quanto o filme de Hirszman são obras que continuam atuais até hoje.

Resenha RIO 40 GRAUS

Rio 40 graus é um filme brasileiro de 1955, com roteiro e direção de Nelson Pereira dos Santos e duração de 100 min.É considerada uma obra inspiradora do cinema novo, movimento estético e cultural que pretendia mostrar a realidade brasileira.
Movimento surgido nos anos 1950, inspirado pelo neorrealismo italiano, que utilizava atores não profissionais, locações reais e temas sociais. Sua produção apresentou problemas desde o início, e só foi possível graças a um esquema em que a equipe se tornou sócia do filme, por meio do sistema de cotas. Durante as gravações, a trupe ainda dividiu um minúsculo apartamento de dois quartos – a república dos dez – em prédio conhecido por seus prostíbulos, atrás da Praça da Cruz Vermelha, no Centro do Rio, para economizar nas despesas. O filme foi censurado pelos militares, que o consideraram uma grande mentira. Segundo o censor e chefe de polícia da época, "a média da temperatura do Rio nunca passou dos 39,6°C".
O filme é um semi-documentário passado em um domingo de verão, o filme traz como personagens principais cinco meninos negros que vivem no Morro do Cabuçu, na Zona Norte, e vendem amendoim em pontos turísticos da cidade, como o Corcovado, o Pão de Açúcar e Copacabana. Nelson estruturou toda uma visão humana, transcorrida num domingo: os personagens se encontram e desencontram, percorrem a cidade, buscam o lazer, o amor, o trabalho. São seres extraordinariamente simples e humildes, personagens que permanecem na retina do espectador
Os atores mirins foram escolhidos no próprio morro. A mistura de ficção e realidade trouxe às telas os contrastes sociais que incomodavam muitos setores da classe média, cuja cultura rejeitava a pobreza como tema de cinema