quarta-feira, 25 de maio de 2011

Anteprojeto do Manifesto do Centro Popular de Cultura

O artigo Anteprojeto do Manifesto Centro Popular de Cultura trata sobre os ideais do Centro Popular de Cultura (CPC), associação que foi criada em 1961, no Rio de Janeiro. O grupo, ligado à União Nacional de Estudantes (UNE), tinha como objetivo criar uma “arte revolucionária”, que exaltasse a cultura nacional e conscientizasse as classes populares. A arte, para eles, deveria ter, além do engajamento político do artista, caráter coletivo e democrático. O grupo era formado por artistas do teatro, do cinema, da música, da literatura e das artes plásticas e teve seus propósitos e fundamentos estabelecidos no Anteprojeto, escrito em março de 1962. 

Os artistas do CPC se propunham à criação de uma arte que não se desvinculasse dos processos materiais que configuram a existência da sociedade - ou seja, a arte não deveria ter fins exclusivamente estéticos: deveria ser vinculada à realidade social. Além de ser um artista, eles deveriam ser homens comuns, com as mesmas limitações e ideais de seus semelhantes, compartilhando as mesma responsabilidades, esforços, derrotas e conquistas comuns.

Segundo o manifesto, havia dois caminhos que poderiam ser seguidos pelos artistas: se sujeitar ao sistema social, agindo de modo amorfo e passivo, ou participar ativamente contra a conformismo da sociedade. Para o CPC, os artistas que escolhiam a primeira opção não relacionavam a arte com o olhar crítico sobre as condições sociais e históricas, pelo contrário - consideravam que eles estavam conectados às relações de produção que formam a estrutura econômica da sociedade. Esses artistas, de acordo com o Anteprojeto, juntamente com as classes econômicas dominantes, atuavam com o objetivo de dominar as ideias, sentimentos, valores e aspirações do povo. 

A arte para o CPC deveria ser uma importante ferramenta espiritual de libertação material e cultural do povo brasileiro. Para isso, seria necessário o conhecimento das relações sociais, bem como os aspectos políticos e econômicos, de modo que fosse possível realizar um trabalho ativo, forte, modificador e independente, capaz de produzir reações na estrutura material da sociedade. Por isso que o grupo caracterizava a arte como revolucionária, graças ao seu poder de romper com paradigmas.

Os artistas e intelectuais brasileiros eram classificados pelo Centro Popular de Cultura em três categorias: conformistas, inconformistas e revolucionários, sendo os últimos os próprios artistas da associação. Os inconformistas, de acordo com o manifesto, eram contra os padrões de dominação da sociedade e deixavam clara sua repulsa pelo sistema. A ausência de uma atitude visando mudanças, no entanto, impedia que eles fossem caracterizados como "revolucionários" pelo CPC.

Também a arte poderia ser dividida em três tipos, segundo o manifesto: a arte do povo, a arte popular e a arte popular revolucionária. A primeira era aquela produzida em regiões mais atrasadas economicamente, na qual o artista não se distinguia da massa. O segundo tipo visava o público dos centros urbanos, que recebia a obra produzida por um "grupo de especialistas". A arte era vista como um passatempo, uma alternativa de lazer. Para o CPC, esses tipos de arte não poderiam ser aceitos como pontes de comunicação com as massas, já que não expressavam a essência do povo. Já a "arte revolucionária" era, para eles, a melhor expressão da arte. O grupo acreditava que a revolução estava em passar o poder para o povo, anseiando pelos mesmo objetivos políticos da massa. A revolução seria atingida, então, com a conscientização da condição de dominados da massa e, consequentemente, seria esperada uma ação prática de libertação do povo. Os artistas do CPC se consideravam superiores aos artistas da massa, os que criavam entretenimento.

Em 1964, logo após o golpe militar, o CPC foi fechado pelas autoridades. À época, o Partido Comunista Brasileiro ocupava um lugar de destaque na área cultural, sendo composto por muitos jornalistas, artistas e profissionais liberais, além de entidades como a própria UNE. Durante sua breve existência, o CPC promoveu a encenação de peças de teatro em portas de fábricas, nos sindicatos e nas ruas de várias cidades e em áreas rurais do Brasil. O contexto era de forte mobilização política, com expansão das organizações de trabalhadores, de modo que os temas do debate político influenciavam diretamente a produção cultural.


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