Em 1961, foi criada no Rio de Janeiro, uma associação chamada Centro Popular de Cultura (CPC). No artigo “Anteprojeto do Manifesto Centro popular de Cultura”, os ideais do CPC são tratados. Ligado à União Nacional dos Estudantes (UNE), o objetivo do grupo era criar uma “arte revolucionária” em que a cultura nacional fosse exaltada e as classes populares conscientizadas. O artista deveria estar engajado politicamente e a arte, teria então, um caráter coletivo e democrático. Em março de 1962 o Anteprojeto, que reunia artistas de teatro, cinema, literatura, música - dentre outros, foi criado e as propostas da associação foram estabelecidas ali.
A proposta dos artistas do CPC é a de criação de uma arte que não tenha fins exclusivamente estéticos e sim algo vinculado à realidade social. O artista deve também exercer seu papel de homem comum, além de ser artista, ter as mesmas limitações e ideais dos seus semelhantes, compartilhar dos mesmos esforços, derrotas e conquistas.
Há duas posições que, segundo o manifesto, os artistas podem seguir: 1) Se sujeitar ao sistema, agir de modo passivo; 2) Participar ativamente contra a conformação do mesmo meio social. Os artistas que escolhem a primeira opção, para o CPC, não relacionam a arte com a crítica que esta deveria ser relacionada, uma crítica sobre as condições sociais da sociedade. Juntamente com as classes econômicas dominantes, esses artistas, atuam com o objetivo de dominar ideais e valores do povo. Para o CPC a arte deveria ser uma importante ferramenta de libertação material e cultural do povo brasileiro. E por isso, os artistas do CPC caracterizam sua arte como “revolucionária”. E vale destacar portanto que a associação define três tipos de intelectuais e artistas brasileiros: 1) Conformistas (citados acima); 2) Inconformistas; 3) Revolucionários (os próprios artistas da associação). De acordo com o manifesto, os inconformistas, são contra padrões de dominação da sociedade e deixam claro a repulsa pelo sistema mas, não possuem qualquer atitude que desempenhe mudança.
A arte é classificada em três tipos pelo CPC: 1) Arte do povo; 2) Arte popular; 3) Arte revolucionária. A primeira é produzida em regiões mais atrasada economicamente, o artista e a massa não se distinguem, convivem no mesmo meio. A segunda atende ao publico dos centros urbanos que recebem a obra produzida por um “grupo de especialistas”, a arte é mais vista como um passatempo, alternativa de lazer. Para o CPC tais artes não são aceitas como pontes de comunicação com as massas, “não expressam a essência do povo”. E por último, a arte revolucionária é para os artistas do CPC a melhor forma de expressar a arte. “A revolução seria atingida com a conscientização da condição de dominados da massa e conseqüentemente seria esperada uma ação prática de libertação do povo”. Os “artistas revolucionários” se consideram superiores que os de massa e acreditam criar o novo para que os outros apenas o utilizem como inspiração.
O conjunto de problemas, diagnosticados no manifesto, tem seu fundamento na oposição entre qualidade e popularidade. As obras de arte são geralmente compreendidas por pessoas do meio artístico, devido à sua complexidade, tendo requisitos que constituem justamente os pressupostos culturais para sua compreensão. Por isso, a compreensão da obra pelo povo, torna-se um problema. Entretanto, já sabendo dos desafios, o CPC, se dedica às pesquisas e ao desenvolvimento de recursos de linguagem, criando assim, uma arte eficaz que conscientize o povo e os torna mais politizados também .